CONVERSA ENTRE AMIGOS
Numa dessas noites intermináveis, espiando e meditando em
frente das brasas incandescentes, provindas dos tições odoríficos de oliveira
que alagavam apinhados dentro da lareira da sala de jantar, o meu amigo Chico
parecendo acordar dum feitiço hipnótico, entrou “a matar”.
- Continuas como sempre a renegar a democracia?
Por alguns longos segundos, continuei fixando as labaredas,
quando, repentinamente, reagi.
- Pois! Sabes que quando me debruço nestes enigmas as minhas
dificuldades são inúmeras e acabo sempre por esbarrar com um sofisma: ao
pretenderem provar o poder da Democracia, fazendo a apologia da frase de
Winston Churchill “ Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem
defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as
demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”, e quando tento
mostrar a imperfeição dessa ordenação, sonegam-me o direito a proferir uma
opinião, precisamente por logo afirmarem se não sou democrata serei
indubitavelmente ditador…
Embalado o meu amigo ripostou.
– Não acreditas em nenhum sistema político? Acreditamos
sempre nalguma coisa! Cada um de nós, bem no fundo de nós mesmos, temos uma
forma politica que aceitamos publica,ou, secretamente, e aí, a essa cripta onde
enterramos todas as misérias e tristezas, voltamos sempre quando nos sentimos maltratados
e escorraçados.
Mas eu aturdido, meneava a cabeça repetindo.
– Garanto-te que não acredito em nenhum sistema político…
Deambulo no escuro… sem paz e sem sossego.
João Filipe “Conversas sem sentido”
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