quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Os Meios de Comunicação


O jornalismo que nem sempre foi considerado uma profissão liberal, é na nossa era condenado e estigmatizado por grande parte da população, porque a imprensa perdeu a ética e o modelo de imparcialidade e isenção, ao caldearem factos com opiniões pessoais colorindo a verdade da notícia satisfazendo a suposta necessidade de tornar as informações mais humanizadas. Em vez de fazerem um relato sucinto e recto dos acontecimentos fazem uma abertura em tom romanceado e fantasiado com perguntas previsíveis, moralizantes e abstractas a alguns interlocutores escolhidos ao acaso para alindarem a situação, descarregando logo após uma serie de opiniões de peritos conceituados da praça pública criando uma verdadeira história de suspense. São assim os noticiários televisivos, medíocres, repetitivos até à exaustão, limitando-se aquilo que pode ser fotografado. A sua principal razão de ser são: as calamidades naturais; os grandes acidentes; as grandes fortunas e o culto da imagem; estrelas do futebol da música ou das meninas que preenchem as revistas cor-de-rosa.
Por fim um outro aspecto a destacar, foram eles os meios de comunicação que difundiram por todo o mundo uma das mais recentes descobertas e que dá forma à vida as estatísticas.
Através das notícias e da publicidade toda a gente acaba por se mentalizar mais cedo ou mais tarde das necessidades da saúde e dos perigos da vida bem como as normas comportamentais estabelecidas pelas médias inventariadas.
A vida estatística é uma força policial abstracta e inventada que actua no interior de cada um de nós modelando-nos psicologicamente.

Tempos Modernos



QUERO


Que deixes de fumar / Que uses o cinto de segurança / Que comas legumes / Que não te ponhas ao sol / que emagreças / Que garantas a segurança dos teus filhos no banco traseiro / Que fales de questões raciais / Que uses preservativos / Que te ofereças como voluntário / Que comas menos carne vermelha/ Que controles o colesterol.

quinta-feira, 30 de julho de 2009



Uma das grandes invenções do século XIX, a escola pública e o trabalho até então feito, foi destruído no nosso século por falta de capacidade de aproximar as crianças da leitura. Para que tudo isto acontecesse, contribuíram diversos factores nos processos utilizados: a absurda formação da maioria dos professores; a repulsa sistemática por parte dos interlocutores pelo trabalho duro; e a excessiva afeição aos aparelhos electrónicos.
Durante o último estádio de decadência escolar tanto na Europa como nos Estados Unidos da América os reparos voltaram-se para a «família» e os pais foram culpados pelo estado da situação, e acusados pelo pouco envolvimento no trabalho escolar dos filhos, no desconhecimento total ou parcial das suas actividades lectivas, e a ausência nas relações e conhecimento dos professores, insurgindo-se por fim com adversidade, quando as proles eram admoestadas. Era essencial que fizessem parte da instituição e não fracção a excluir, devidamente sustentados e apoiados pelo Estado.
Perante todos estes insucessos e desgraças era inevitável perguntar o que era efectivamente a família nestes tempos demóticos?
O movimento revolucionário sexual dos pós guerra mudou completamente o panorama, e alterou visceralmente o conceito dos «valores familiares». Sem ter desaparecido a forma de união tradicional (casamento católico), as cambiantes antes inusitadas começaram a proliferar graças aos «média» e aos «audiovisuais» e às necessidades cada vez mais opressivas do «nível de vida»: famílias em que tanto o homem como a mulher tinham que trabalhar; famílias monoparentais; em que o chefe de família podia estar desempregado ou em risco de ser exonerado do seu trabalho; famílias com crianças de pretéritos matrimónios; casais de homossexuais com crianças perfilhadas ou filhos de um deles. Para tudo isto a solução encontrada foram: as creches; as misericórdias e os tão aconchegados orfanatos quando visitados pelas câmaras de televisão e frios e desumanos o resto dos outros dias.
Perante este cenário, era difícil adaptar horários desenvolver afectos e competências para gerir uma ligação estreita entre educandos e educadores tornando-se uma empreitada avassaladora, mesmo quando os obstáculos da pobreza e da iliteracia não eram tidos em conta. O resultado foi que as crianças não encontraram na família, força moral que os apoiasse nem adquiriram boas práticas de relacionamento com o próximo e muito menos com os educadores, engrossando o número de crianças com menos de 10 anos a consumirem drogas e se organizarem em bandos para efectivar roubos, ou cometendo os tais «crimes sem sentido e que enchem os espaços informativos dos telejornais, reflectindo a falta de consciência moral. Rapazes e raparigas confederaram-se em bandos com regras rígidas e estreitas.
Foram ELES e não os primeiros-ministros que reinventaram os governos, e quando acrescentaram a este fanatismo algo de satânico não deslindaram a religião mas redescobriram com certeza o ritual. Outros bandos ainda mais numerosos e executores de «graffitis» «borraram» os muros e as praças clássicas; representações vivas da nossa história, seguindo o rumo da arte descartável e predispostos e talhados a eliminar e destruir: o meio, o método e a cultura.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Tempos Demóticos

No século passado, muitos povos tornaram-se comunistas e os nomes oficiais que adoptaram sugeriam com frequencia que eram novas «democracias» que vinham juntar-se às do Ocidente.
Os lideres do momento enalteciam o «governo do povo» mas as eleições e assembleias desses novos regimes eram uma farsa. E, há que acrescentar, nem os países ocidentais mereciam a conotação de "democráticos".
DEMOCRACIA significa governo de todo o povo: uma reunião onde toda a comunidade debate e vota. Jamais se verificou tal coisa. O nome correcto, quando merecido, deveria ser «governo representativo». Por efeito de uma escorregadela de semântica,«democrático» viria ser utilizado a trouxe-mouxe.
O sr. Primeiro Ministro, José Sócrates fala como único representantante da «esquerda democrática». O que é isso?
Uma sopa de politicas sociais misturadas com neo-liberalismo?
Seria ««democrático» proibir os Portugueses de referendar o «tratado de Lisboa»?
Única forma objectiva e legal de praticar a tal «democracia» de que tanto se arrogam e jamais a põem em prática.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Tempos Demóticos II


Hoje, somos bombardeados minuto a minuto por publicidade enganosa e tentadora sem que para isso o estado tome medidas reguladoras.
Uma vez que a tecnologia comanda e superintende a produção é necessário manter os estímulos e os incentivos, renovando nova e velhas paixões, sublimando os desejos dos ricos serem mais ricos e os pobres ocultarem a sua escassez, incutindo neles uma sensação contínua de privação, havendo sempre novas necessidades, novos medicamentos facilmente ingeridos para novas e velhas doenças, nocivas à estética ou ao comportamento. Coagidos e espicaçado pôr estes estímulos, os gastos levam a um estado de perpétuo endividamento.
Funcionando como um analgésico e um sedativo, poucas vozes discordante se levantam perante a «sociedade de consumo», parecendo algo animalesca na sua obsessão de satisfação dos desejos físicos. O consumidor pode reclamar e até se insurgir convocando grandes manifestações mas o «nível de vida» é um agente oficial de opressão.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Tempos Demóticos III



Quanto à paz e à guerra, a primeira era o ferrete que diferenciava o Ocidente do resto do mundo.
As leis de Bruxelas coadas por países como a Alemanha, a França ou a Inglaterra e as prescrições de Washington, arquitectaram uma confederação informal. Bem-aventuradas e afortunadas, dispondo de um armamento bélico ofensivo e esmagador, enquanto proibiam outros de se armarem mantinham dentro das suas fronteiras um respeito inexorável pela lei. Decidiram entre si e caso os seus interesses financeiros não fossem molestados que partidos e povos se gladiassem e se aniquilassem até à exaustação e sobre as cinzas de Fénix reconstruíssem novos programas.
Ao fim de algum tempo o intelecto ocidental viu-se atacado por uma maldita calamidade: O TÉDIO. O ataque foi tal que as pessoas, enfastiadas e enojadas por este disfarçado entretenimento e encabeçadas por um restrito grupo de homens e mulheres de mentes iluminadas, impuseram uma REVOLUÇÃO. Renovando uma IDEIA. Estes bravos e audazes humanos começaram por analisar os vetustos alfarrábios, assinalando e reescrevendo, indicadores de uma vida mais plena e total.
Reavivaram em todos os espíritos obras de arte amaldiçoadas há muito tempo por serem tidas sem qualquer vantagem ou conveniência. Assim, estimularam e reacenderam o orgulho0 e a inspiração nos rapazes perspicazes e prodigiosos a ventura inexplicável de ESTAR VIVO.

VIVA A REVOLUÇÃO

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Encontro de velhos amigos


O tempo foge-nos por entre os dedos e vou-o descobrindo esgotado nos Natais, em volta das labaredas do «Madeiro», degustando as seculares filhoses, circundado pelos filhos e alguns netos, enquanto o esquecimento vai diluindo da memória algumas sombras fugidias da figura da Maria, minha mulher e morta num violento acidente, ou nos longos dias de Verão fruindo das refrescantes e lenitivas sombras dos frondosos freixos, guardiões das vítreas águas nos remansos da ribeira. Rebuscando os velhos arcazes da memória evoco os tempos de escola e relembro-me dos folguedos de outrora, de quão pulcros eram na sua singeleza: os namoros, os furtos nocturnos, em bandos procurando alforrias, nas capoeiras ou nos vergeis da aldeia e os amigos. Ah os amigos! Sempre disponíveis. Fosse nas peregrinações, efectivas romagens aos concertos em voga, festival de jazz em Cascais,Vilar de Mouros e quantos outros como estes inolvidáveis ou na bola, onde os jogos e os lugares eram disputados ferozmente, prenhes de emoções e de irracionalidades.
Eu, José Manuel Salgueiro, o «Botas» da Benquerença (Calhameiro apelido da aldeia), nunca entendi a verdadeira razão da minha alcunha. Talvez fosse pela minha forma de andar, pachorrenta e arrastada dos pés ou quiçá pelo meu voluntarismo aquando das grandes «patuscadas» em fazer o serviço próximo dos garrafões e omitir a preparação dos «petiscos». Jogava a guarda-redes, acredito, não pela minha altura (1,70m) pois havia outros muito mais altos como o «Pernas», o «Pipas» ou o «Gracioso» mas, possivelmente, pelo fraco engenho que patenteava no jogo de campo e assim se determinou a minha ida para a baliza a princípio pouco segura mas, por fim, lá fui aprendendo a cair e a mergulhar nos «pelados» e empedrados campos da época. Hoje, um par de pernas anafadas e arqueadas, sustentam as minhas bochechas descaídas demarcadas por um nariz purpúreo e arrebitado. A adiposidade criada e mantida na «pança» dá a ilusão que o peito me decaiu.
O «Pernas», Francisco Mendes Figueira, da Meimoa (Barrigudo, alcunha da povoação), alto (1,90m) mas dotado de uma boa condição atlética, tinha uma ligeira curvatura nos ombros, e de cabeça inclinada para a frente mostrava uma determinada saliência entre as omoplatas (marreca). Tinha as maçãs do rosto proeminentes e um nariz de falcão, queixo fugidio e a maxila inferior descaída, com uns enormes olhos protuberantes, negros de azeviche, defesa central, talvez nem tanto pela habilidade mas pelo respeito que infringia às linhas avançadas dos adversários . Era peça fundamental na estrutura da equipe, de carácter «bonzão» entre o grupo, estava sempre de acordo com tudo e com todos não «fazendo mal a uma mosca». Hoje vive em França creio que casado com uma Francesa, já há muito tempo que lhe perdi o rasto.
O «Pipas», Pedro Proença de Pascoais, do Vale de Lobo (Arrepiado, alcunha da povoação) media 1,80m de altura aproximadamente, era corpulento e espadaúdo, com braços curtos mas espessos terminando com uns punhos extraordinários mas de um vigor e tenacidade alarmantes. O cabelo ruivo acentuava a cor de cenourinha do rosto pintalgado, os olhos de um verde muito claro alternavam para azul consoante a luminosidade, descansando sobre um nariz forte e escarlate. Os lábios finos e risonhos, prendiam um queixo sólido mas minúsculo. A alcunha proveio-lhe talvez pelo excesso de «pês» no nome ou quiçá pela sua grande apetência por bebidas alcoólicas. Era médio-centro pela sua agressividade nos jogos e de carácter pouco dado a derrotas. Mesmo estando consumadas, raramente as aceitava. Tinha um cunho brigão e rezingão, estando quase sempre contra tudo e contra todos. Hoje vive em Lisboa, é solteiro, já tendo visitado várias vezes a prisão, por insurreições políticas e sociais provocadas em bares nocturnos a altas horas da madrugada. Creio tê-lo visto hà 10 anos, estava igual, um eterno descontente.
O «Gracioso», Paulo de Oliveira Martins dos Três-Povos (Espanhol, alcunha da aldeia), um tudo nada mais alto que eu, era belo, de fazer inveja às esculturas de «Apolo»: os cabelos compridos, castanhos-claros projectavam-se em cascata sobre os ombros entre caracóis intermináveis, reverberando a luz solar em caleidoscópico, os olhos largos e lânguidos enfeitiçavam as amantes que cirandavam como loucas em seu redor. De ombros amplos e peito bem musculado, era sustentado pela cintura excessivamente delgada e as pernas de atleta olímpico. Ganhou a alcunha pela sua formosura. Ponta de lança, parecia passar despercebido nos jogos mas havia momentos que fazia habilidades tais com a bola, de trocar os olhos às defesas adversárias. Era também o menos aventureiro do bando, de formação Cristista, e o único que ia regularmente às manifestações religiosas todas as manhãs de domingo. Era comedido no consumo de bebidas alcoólicas. Hoje é casado com dois filhos, vive em Castelo Branco, é engenheiro ambiental, vejo-o regularmente.
Chamavam-nos «o cócó mais o ranhetas e a menina às facadas» o que pouco nos incomodava salvo o Pipas que se encontrava sempre de feição para estrebuchar, com motivos mais que suficientes para zaragatear e era quase sempre aquietado pelo Pernas.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

VALE DE LOBO e a Romanização




A Romanização

A conquista Romana da Península Ibérica e a consequente romanização aconteceram entre o ano 218 a.C. e o ano 27 a.C., divididos em cinco períodos. Num primeiro período, os Lusitanos, sentindo o perigo imperial romano aliaram-se aos Cúnios, aos Turdetanos e aos Celtas povos já estabelecidos na península. O ardil do pastor e a desconfiança inata dos autóctones sucumbe à eficiência das tropas mercenárias imperiais. O pastor faz guerra se for necessário, o mercenário faz guerra por ser sua profissão e a isso ser obrigado. O segundo período inicia-se com a obrigação dos Lusitanos se estruturarem militarmente, de forma a rechaçar o invasor, já que vencer Roma era impossível. Foi então que nos montes Hermínios se organizou a resistência liderada por Viriato, sem grandes consequências práticas pois viria a ser assassinado antes de concluir o projecto, deixando os Lusitanos sem chefe militar. O terceiro período começa com a vitória de Décimo Júnio Bruto derrotando as hordas pastoris e bucólicas dos lusitanos, malogradas que foram as formas de guerrilha utilizadas. Os castros não sendo redutos militares nem vocacionados para estes efeitos foram pouco a pouco desmantelados pelas forças invasoras. Há, no entanto, um certo ludismo bélico e Sertório, chefe romano abandona as suas hostes, junta-se aos Lusitanos tomando o vazio directivo deixado com a morte de Viriato iniciando-se, assim, o quarto período. Esta fase, apesar das qualidades de chefia e poder organizativo de Sertório, acabam por claudicar e morrer como diria Orósio, "às mãos dos seus". O quinto período ocorre com a vinda de Júlio César e a pacificação geral da Lusitânia, com a proclamação da «pax romana» que na terminologia bélico-imperial significava: conquista «castra expugnata». Vencido o opositor Roma tem a paz, entre os anos 75 e 25 a.C. Sistematicamente, na Península, tudo muda e os castros são substituídos pelas «urbs», «oppidum», «vicus», os agricultores subjugados são fixados nas «villae rusticae» cuidando do sustento às «villae urbanae» que os patrícios romanos tinham para seu prazer, alterando significativamente o ordenamento do território, sendo para os peninsulares a aplicação do Direito Romano um choque dramático, pois ao introduzirem o conceito de ocupação individualista esbarravam nos princípios colectivos e comunitários existentes.
Os Lusitanos agrupavam-se em comunidades agrárias de base familiares regidas por regulamentos simples. O Direito romano é complexo e global, imperial, opondo-se ao direito local e localista assente no relacionamento de pessoa para pessoa, transformando tudo em «respublica res romanae» assuntos do povo Romano havendo no império três tipos de pessoas não abrangidas por este Direito; as «hostes» tidas como inimigas de Roma, os «barbari» sem qualquer relação de direito com os romanos; por fim os «peregrini», vendedores, comerciantes, gente estranha ao Império que se encontrava em trânsito. O município foi instrumento de nova ordem e constituiu um dos maiores veículos para a romanização fosse ele cultural, social, politico ou administrativo. As vias na península são alargadas e empedradas tendo como único sentido Roma, ponto de confluência de toda a riqueza do império e três províncias são criadas na península: Lusitânia mas sem a cabeça bracaro-galaica; a Tarraconense envolvendo a região galaico-bracarense, e a Bética, envolvendo o sudoeste peninsular. Eram as duas primeiras de jurisdição imperial e a terceira, província de Jurisdição do senado. As províncias foram subdivididas em «conventus» das quais consideramos somente no território Lusitano aqueles que nos respeitam: O Emeritense, capital Mérida ou Emerita; o Pacense, sediado em Beja, «Pax Júlia»; o Scalabitano, sediado em Santarém, «Scalabis» e mais outras seis, na província Tarraconense e «Hispalis», com mais três conventos, na província Bética. Deste modo a antiga Lusitânia foi repartida em cinco conventus, alheados administrativamente da unidade étnica e, só dois deles, absolutamente adentro das portas lusitanas: Beja e Santarém. O mais da Lusitânia antiga foi sujeita a Mérida e Tarragona Na Lusitânia, excluindo a norte os Brácaros, permanecendo apenas os povos «Aquiflavienses», Trás-os-Montes, «Interamnicos», Entre Douro e Minho, «Limicos», Ribeira Lima; «Tamacanos», Douro, os «LUCIENSES OPIDANUS», Aquém Côa ou TRANCOSANOS,» Lucienses Transcudanos, Riba Côa; ao «Egiditanos», Egitânia, os «Meidubrigenses» do Marvão e, por fim, os povos da zona algarvia, ou seja, os celtas mesopotâmicos e os cúnios. VALE DE LOBO O rol dos onze povos lusitanos colaboradores da ponte romana de Alcântara (Espanha), edificada no começo do século II, abria, segundo uma inscrição que na mesma ponte se via, pelo povo dos Igaeditanos, o mais próximo do edifício em questão e aí ocupante, na margem direita do Tejo e terminava pelo povo dos Paesures, na margem esquerda do Douro, adentro da Lusitânia originária.
O segundo povo da referida relação e imediatamente a norte dos Igaeditanos era o dos Lancienses Oppidanos , centrados em Lancia Oppidana, (Senhora da Póvoa), a norte da Civitas Igaeditanorum, designação autonomástica e então costumada, da actual povoação de Idanha-a-Velha, no concelho de Idanha-a-Nova.
A arqueologia romana adensa-se no aro de Idanha-a-Velha, em círculos concêntricos de cada vez mais apertados à medida que nos aproximamos do centro. É este um dos três focos latino-arqueológicos da Beira Baixa, dos quais os outros dois são a Serra d’Opa, na extremidade noroeste do concelho de Penamacor, e a vila de Marialva, no concelho de Meda. A Este podemos juntar a velha Numão, sobre o Douro. Lancia Oppidana era um Oppidum lusitano dos Vetões, a nação mais oriental da província da Lusitânia. Jazem os seus restos 18 km a noroeste de Penamacor e nas imediações daquela impressionante vila de Sortelha.
Tem sido até hoje um árduo problema a determinação do Ubi de Lancia Oppidana que, por muito tempo, quiseram em Viseu, outros na Guarda e até na localidade da Capinha, no concelho do Fundão. Por nossa parte a fomos colocar em Valhelhas, concelho de Belmonte, por motivo da adensação arqueológica do local e, sobretudo, por motivos dos caminhos romanos que ali cruzavam, com ostensivas colunas miliárias cujas distâncias se relacionam com Valhelhas.
Tudo de parte, a centração arqueológica de maior volume depois da Idanha e imediatamente a norte é, incontestavelmente, em variedade como em extensão, a Serra d’Opa no aro da freguesia de vale de Lobo que ora mandam se chame, Vale da Senhora da Póvoa, por ser nesta freguesia o santuário famoso da Senhora da Póvoa, de muita antiguidade e romanidade.
A área arqueológica de Vale de Lobo é delimitada por serras altas das quais a principal, a de Opa, ergue o dorso a 861 metros. Esta serra possui a extensão de 6 Kms. De nordeste a sudoeste, e encurvada sobre o poente, com concavidade sobre o nascente, na qual se aloja, sossegado, o Santuário da Senhora da Póvoa, nome tirado de um povoado de origem romana que ali existira a poucas centenas de metros, e ainda agora conhecido por sítio da Póvoa. Dali se retiram objectos da época romana, vendo-se o chão juncado de fragmentação de tegula e imbrex, sobretudo na propriedade ou Campo do Peão. A maior altitude da Serra domina este lugar, o qual se encontra entre o Santuário e Vale de Lobo, à beira de um caminho de profundíssimo sulco que procede da clássica travessia do Zêzere, em Alcaria e se desenvolve para o Sabugal. A cumieira da Serra d’Opa ostenta três cidadelas de antiguidade indeterminada: a nordeste, o cimo de Opa, circundado de muralha circular com aproximado diâmetro de 100 metros. Ao centro, do dorso vê-se outra cidadela redonda, também com diâmetro de 100 metros. É ao sítio das Vendas dos Vinhos e Enferrujados. A sudoeste, na outra extremidade da Serra, vê-se outra muralha do mesmo tipo, também circular e também de pedra solta com entremeados de cantaria a pino para maior solidez. Terá 50 metros de diâmetro. Chamam-lhe aqui Sortelha Velha, dizendo-a precursora da Vila e Castelo de Sortelha que, todavia, se acha a cerca de 9 Kms ao norte. O sinal geodésico de Sortelha Velha dá-lhe a altitude de 632 metros. Há vários alcariais romanos, ou sítios de dispersão de tegula na base da Serra d’Opa e pelo campo que todos de conjunto, com as três cidadelas do alto, constituíam Lancia Oppidana. Os lancienses aravam o fértil campo e extraíam minério da sua serra, rica ainda hoje em estanho e volfrâmio. A localidade de Vale de Lobo, como outras alcariais adjacentes, oferecem impressionante quantidade de jorra de ferrarias, a que localmente chamam chichorro. São vestígios de explorações romanas. De entre os escourais e alcariais de tegula e imbrex mencionamos na freguesia de Vale de Lobo os sítios da Serrinha, Peão, Lameira Mourisca, etc. Eram as romanas villae (quintas) de Lancia Oppidana. A vila de Sortelha situa-se entre duas altas montanhas cónicas, do tipo SACRO, que são a Serra d’Opa a sul e a serra de S. Cornélio a norte. Na serra d’Opa assinalam-se construções romanas, atribuídas a mouros, em vasta rede estendida para o sul até ao Santuário da Senhora da Póvoa, afamado santuário de muitas tradições mouriscas, com festividades caracterizadas por danças e adufes. São as sobrevivências do oppidum que outrora floresceu na Serra d’Opa, de que há restos em toda a circunferência da serra e no alto. Precedeu a fundação de Sortelha, vila muito antiga, uma das mais impressionantes vilas da província da Beira. Opa, Senhora da Póvoa e Sortelha, constituindo o cantão arqueológico de maior densidade do Cima Côa, são reminiscências do oppidum LANCIA ou LANCIA OPPIDANA, cujo território se estendia para sul até Monsanto, onde entrava em contacto com Igaeditanos e augustobricenses. Para a banda do norte e ao de lá de Sortelha vai a estrada em direcção à Guarda donde desce a fundo sobre o Mondego e onde Lancia Oppidana entraria em contacto com os lancienses transcudanos de Gouveia e Seia, com os Tálures de Viseu e com os Interamnienses de Trancoso e Moreira do Rei. A estrada sai de Sortelha, levando o serro de S. Cornélio à direita e seguindo os lugares de Pena Lobo, Pousafoles, Panoias, Castro de Tentinolho (de algum modo precursor lusitano da Guarda). Jaz o velho castro a grande altura sobre o Porto da Carne onde o Mondego é transposto pela Estrada Nacional nº 17, com rumo imediato a Celorico da Beira. Há inscrições funerárias de Idanha-a-Velha respeitantes a indivíduos aqui falecidos, oriundos de Lancia Oppidana uns, do Interamnium ou Titeramnium, outros.
(Mário Saa – As Grandes Vias )