quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

CONVERSAS NA TABERNA



Na aldeia o dia escorria calmo, tal calmo como a calmaria que o atabafava.
Na taberna, os clientes chegavam a conta-gotas ofegantes e esbaforidos com a canícula e dolentes, encostavam a barriga ao balcão reclamando uma bebida que lhes matasse a sequidão.
«Dois tintos frescos», ordenaram-me dois velhotes; um baixote e de rosto vermelhusco e fosse pela pouca claridade que havia no balcão, ao retirar os óculos, numa tentativa frustrada de agarrar o copo ou de me ver melhor, mostrou os olhos desembaraçados dos vidros, eram pestanejantes e patéticos, o outro, um pouco mais jovem com uma mancha incolor quase branca que lhe maculava os cabelos escuros, tinha os olhos engastados nas órbitas escurecidas, falava calmamente parecendo meditar.
Enquanto outros, com a mesma entidade e as mesmas convicções, passavam dias inteiros sentados conversando, conversando da maneira mais livre mais despegada e mais sincera, sem se compreenderem, ou se tentarem compreender por um minuto… sem se encontrarem nem fazerem um esforço de se encontrar, nem que fosse por um segundo
 Afáveis e risonhos, aparentavam tranquilidade por fora, mas diziam palavras tão angustiadas e tinham o espírito tão oprimido, que o mais certo, era o fado da já longa caminhada, lhes ter macerado e desengranzado a existência, ou ter-lhes rogado peçonha.
Nós, sabemos dessa solidão!...É a solidão de Babel  (maldição).



Conversas sem sentido


João Filipe

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