CONVERSAS NA
TABERNA
Na aldeia o dia
escorria calmo, tal calmo como a calmaria que o atabafava.
Na taberna, os clientes chegavam a conta-gotas
ofegantes e esbaforidos com a canícula e dolentes, encostavam a barriga ao
balcão reclamando uma bebida que lhes matasse a sequidão.
«Dois tintos frescos», ordenaram-me dois velhotes;
um baixote e de rosto vermelhusco e fosse pela pouca claridade que havia no
balcão, ao retirar os óculos, numa tentativa frustrada de agarrar o copo ou de
me ver melhor, mostrou os olhos desembaraçados dos vidros, eram pestanejantes e
patéticos, o outro, um pouco mais jovem com uma mancha incolor quase branca que
lhe maculava os cabelos escuros, tinha os olhos engastados nas órbitas
escurecidas, falava calmamente parecendo meditar.
Enquanto outros, com a mesma entidade e as mesmas
convicções, passavam dias inteiros sentados conversando, conversando da maneira
mais livre mais despegada e mais sincera, sem se compreenderem, ou se tentarem
compreender por um minuto… sem se encontrarem nem fazerem um esforço de se
encontrar, nem que fosse por um segundo
Afáveis e risonhos, aparentavam tranquilidade
por fora, mas diziam palavras tão angustiadas e tinham o espírito tão oprimido,
que o mais certo, era o fado da já longa caminhada, lhes ter macerado e
desengranzado a existência, ou ter-lhes rogado peçonha.
Nós, sabemos dessa solidão!...É a solidão de Babel
(maldição).
Conversas sem sentido
João Filipe
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