segunda-feira, 1 de junho de 2015

AS CASAS DA MINHA ALDEIA

Numa clareira das encostas a sul da serra da Malcata ergue-se parecendo emprestar-se segurança e equilíbrio, a aldeia onde eu nasci, num amontoado de telhas, observado de uma certa distância dá a sensação de um confuso emaranhamento de construções enegrecidas cujos contornos se fundem nas névoas. As telhas corroídas de musgos e líquenes pareciam estar embebidas de milhares de gotículas de água irisando ao sol sob um imenso manto de feltro
O pátio da minha casa reflectia a pouca luminosidade diurna sob um céu opressivo e cor de chumbo. Abri a porta de entrada da casa e respirei o interior, abrindo as narinas com uma intensidade desmedida e insaciável para receber aqueles eflúvios esquecidos e tão depressa reconhecidos, flutuantes, indistintos, impossíveis de analisar que emanavam ao mesmo tempo da pintura dos móveis e da casa em geral.



João Filipe in “ Velhos são os Trapos”

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