AS CASAS DA MINHA ALDEIA
Numa clareira das encostas a sul da serra da Malcata ergue-se
parecendo emprestar-se segurança e equilíbrio, a aldeia onde eu nasci, num
amontoado de telhas, observado de uma certa distância dá a sensação de um
confuso emaranhamento de construções enegrecidas cujos contornos se fundem nas
névoas. As telhas corroídas de musgos e líquenes pareciam estar embebidas de
milhares de gotículas de água irisando ao sol sob um imenso manto de feltro
O pátio da minha casa reflectia a pouca luminosidade diurna
sob um céu opressivo e cor de chumbo. Abri a porta de entrada da casa e
respirei o interior, abrindo as narinas com uma intensidade desmedida e
insaciável para receber aqueles eflúvios esquecidos e tão depressa
reconhecidos, flutuantes, indistintos, impossíveis de analisar que emanavam ao
mesmo tempo da pintura dos móveis e da casa em geral.
João Filipe in “ Velhos são os Trapos”
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